Casa de Criadores: 49ª edição questiona o futuro da moda
Em modelo híbrido, com desfiles presenciais e vídeo-performances, evento contou com 28 marcas no lineup
atualizado
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A 49ª edição da Casa de Criadores ocorreu na quinta (9/12) e na sexta-feira (10/12) com um lineup de 28 marcas, entre estreantes e nomes consolidados. Com apresentações majoritariamente virtuais, o tom geral do evento foi de questionamentos para a moda nacional.
Vem conferir os destaques!
Abertura
“Eu sou o Eterno Retorno / Eu sou o espaço cibernético / (…) Eu sou o garoto & a garota / Casa Grande & Senzala”. Os trechos de Poemas Vertigem, de Roberto Piva, embalaram a apresentação do paulista Leandro Castro, o start dessa edição da Casa de Criadores.
No vídeo, três atores assistem uma blusa branca pegar fogo. O elemento “foi escolhido por aludir ao desejo do renascimento dos modos de vestir e de vida, como uma fênix”, explicou o estilista.
A camisa não foi uma escolha aleatória: seu trabalho é centrado na camisaria e na alfaiataria. As formas amplas e espaçosas e os recortes das peças da coleção foram inspirados justamente na miragem das chamas. E a paleta de cores também remete à escuridão, aos tons do fogo e às fibras naturais dos tecidos.
Simples, mas assertiva e autoral, a coleção Fogo, de Leandro Castro, traz uma reflexão sobre a moda como algo que é descartado para ganhar nova vida. Esse processo de transformação não visa garantir um ciclo sustentável e sim estimular o consumo. A roupa é queimada para que uma nova entre em seu lugar.



Estreantes
Quem também trouxe uma apresentação provocativa foi a Guma Joana. A coleção da marca, que participa da Casa de Criadores pela primeira vez, foi intitulada D3SD1T4 03: TRAVA GOTH ELEGANCE e desenvolvida criativamente a partir do poema Alcoólicas, de Hilda Hilst.
As roupas rasgadas e tingidas de vermelho – para remeter a manchas de sangue – e detalhes como correntes e cartelas vazias de comprimidos fazem referência direta às dificuldades das pessoas transvestigênere. O assunto, inclusive, já foi abordado por Guma Joana em performances artísticas.
Quem também debutou no evento foi a Yebo, marca paulista de streetwear que apresentou um “filme-desfile-manifesto” com a temática “Pelo Direito de Brilhar”. “‘O que te impede de brilhar todos os dias e em todas as oportunidades?’. Esses questionamentos são inspirados por toda ocasião em que impede-se uma pessoa de ser uma potência solar em seu cotidiano”.




Nomes consolidados
A marca homônima do cearense David Lee, que tem como carro-chefe o crochê, também participou do evento. Trouxe tons vibrantes de rosa, laranjas e azuis para criar uma imagem de paralelos entre as ideias de restrição e liberdade.
A coleção Travessia conseguiu usar a alfaiataria e referências militares de uma forma leve e alegre, brincando com amarrações, botões e faixas. As sandálias de crochê descombinadas reforçam o conceito de rompimentos e conexões e a maestria do estilista para trabalhar com o material em questão.
Já o mineiro Fábio Costa, que comanda a NotEqual, recorreu à psicologia para criar uma coleção sensível que mergulha no subconsciente e na raiz da construção das memórias afetivas. Brucutú Brut Couture mescla silhuetas estruturadas e leves; retalhos, tecidos lisos e cordas; com o objetivo de esboçar a ideia do rememorar.
“Pensei em não contar uma história lógica, mas analisar através da sequência, colagem de imagens e movimentos a reestruturação [das] lembranças. Cada figura em cena assume um arquétipo, que dita seus movimentos”, explicou o diretor criativo em comunicado.




Instituto Casa de Criadores
Com o objetivo de criar novas bases para a educação em moda e design no Brasil, foi lançado neste mês de dezembro o Instituto Casa de Criadores. Além do fundador e curador da Casa de Criadores, André Hidalgo, a nova empreitada tem um conselho formado pelo estilista Dudu Bertholini, pela ativista e pesquisadora Neon Cunha, pelo especialista em design para sustentabilidade André Carvalhal e pelo artista plástico e performer Dudx.
Qual moda, para qual mundo?, o primeiro curso do Instituto, foi gratuito e reforçou a ideia da Casa de Criadores de ser um espaço colaborativo. A ideia é auxiliar marcas e criativos a desenvolverem seus próprios projetos e a pensarem suas posições na moda nacional.
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Colaborou Carina Benedetti